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MINHA VIDA, MEUS CORDÉIS

Os sabores das mulheres


Todo gosto é discutível
E agora eu vou mostrar
Os sabores das mulheres
Que agradam o paladar
Aproveitei um sambinha
Construí minhas riminhas
Sei que todos vão gostar

Veja a mulher lagosta
Uma coisa que alucina
Só come quem tem dinheiro
Pois lagosta é coisa fina
Pobre sabe como é
Só come sua mulher
Ou a sua concubina

Veja a mulher caviar
Só se conhece de nome
Muito se houve falar
Mas só o rico é que come
Pobre que tenta comer
Não sabe o que fazer
Se lambuza e passa fome

Tem a mulher bacalhau
Com seu cheiro especial
Come-se uma vez por ano
Ou na páscoa ou no natal
Se comer mais do que isso
Fica logo doentiço
Vai parar num hospital

Tem a mulher camarão
Gostosa de saborear
Tem titica na cabeça
Mas é boa pra danar
Esta o pobre aproveita
Depois que come se deita
E se põe logo a roncar

Conheça a mulher Kibe
Dos haréns do além-mar
Não sabendo a procedência
Vá comendo devagar
Se não for a verdadeira
Pode dar uma caganeira
Nem dá tempo de limpar

Pra comer mulher sushi
Tem que ter delicadeza
É preciso dois pauzinhos
Pois a moça é japonesa
Pra comer com um só pau
Use um molho especial
Tem que ter muita destreza

Tem também a mulher pizza
Motoboy entrega em casa
Ela chega um pouco fria
Mesmo assim tu mandas brasa
No dinheiro ou no cartão
Você tem esta opção
Ou então vai pro serasa

A mulher pão de forma
Não tem graça e é quadrada
Ou você come ela logo
Ou então fica mofada
Para não fazer besteira
Conserve na geladeira
Pois é melhor do que nada

Conheça a mulher marmita
O rango do operário
Ele não tem opção
É de acordo com o salário
Ou então divide o pão
Que é uma boa opção
Pro peão que é solidário

Veja a mulher mocotó
Deixa o velho uma rocha
Mais barato que viagra
O coroa nunca brocha
É o no peito e na raça
O que vier ele traça
Ou velhinha ou cabrocha

A mulher frango assado
O seu cheiro tem poder
Temperada e com farofa
Já vem pronta pra comer
Com osso ou desossada
Ela já vem preparada
Não tem mais o que fazer

A mulher cachorro-quente
Sempre tem algum recheio
Ela leva ketchup
A salsinha vai ao meio
Se quiser mais temperada
Pode até botar mostarda
Coma logo sem receio

Se quiser mulher jiló
É amarga mais se come
Esta é uma opção
Pelo menos mata a fome
Se ela for do seu agrado
Você fica saciado
Não tem cabra que a tome

Saiba que a mulher chuchu
Sempre dá o ano inteiro
No mercado ou na feira
Na serra ou no oiteiro
Quem comprar vai degustar
Escolhe pra onde levar
Para casa ou pro puteiro

Tem a mulher sorvete
Refrescante e geladinha
Pode ser de qualquer fruta
Tem que ter a lambidinha
Você chupa onde quiser
Ou deitado ou em pé
Ou no copo ou na casquinha

Tem a mulher miojo
Que é bem fácil de fazer
Leva apenas dois minutos
E está pronta pra comer
Tem sabor oriental
De sabor sensacional
Você come pra valer

Lembre que a mulher caju
A castanha é pendurada
Todo mundo reconhece
O volume da danada
Não sei como o Ronaldinho
Que é muito espertinho
Não desconfiou de nada

Saiba que a mulher goiaba
É gostosa cem por cento
Apesar de bem saudável
Dá o bicho com o vento
Para mim não tem problema
Eu encaro este dilema
Sou predador truculento

A mulher moranguinho
Vermelhinha de arrasar
Sempre antes de comer
Acho bom você lavar
Quando ficar bem limpinha
Dê aquela mordidinha
Pra você se deleitar

Tem a mulher melancia
Bundão de tirar o chapéu
Mexendo daquele jeito
Se eu a pego dou o créu
Posso até ser castigado
Mas com ela ao meu lado
Parece que estou no céu

A mulher churrasquinho
No espeto é um barato
Pensando em filé mignon
Já comi carne de gato
Aprendi a diferença
Ao sentir sua presença
Eu apuro meu olfato

Conheça a mulher buchada
Comida lá do nordeste
No forró é arretada
Mulher de cabra da peste
Satisfaz o sertanejo
Realiza seu desejo
Nesta o homem investe

Tem a mulher rodízio
Muita carne pra escolher
Você fica entupido
Mas não para de comer
Come à tarde e come à noite
Mesmo o frio sendo açoite
Come até o amanhecer

Toda mulher chimarrão
Só come quem é gaúcho
Com o frio lá do sul
Logo o pinto fica murcho
Mas gaúcho é fanfarrão
Bota a toalha no chão
Come até encher o bucho

Tem a mulher vatapá
Carregada de dendê
O baiano devagar
Não tem pressa de comer
Se fosse um cearense
Mesmo antes que ela pense
Já saber o que fazer

Tem a mulher pimenta
Quando como me acabo
Queima a boca quando entra
Na saída arde o rabo
Mas gosto de mulher assim
Que não tem pena de mim
É quente que só o diabo

Saiba que a mulher limão
É azeda e invocada
Chupa sem fazer careta
Não tem medo de porrada
Dando nela uma apertadinha
Sai até uma caipirinha
Ou então uma limonada

Saiba que a mulher rabada
Você come com paixão
Lambe os beiços come o rabo
Com batata e agrião
Mas não entre em desespero
Se não houver tempero
Você come com limão

Se for a mulher cebola
Você pega qualquer hora
Quando decide comer
Não tem jeito você chora
Come e chora, chora e come
Com fome ou sem fome
Pega firme e devora

A mulher cafezinho
Você pega quando passa
Não precisa nem pagar
Quase sempre é de graça
Tem na rua do mercado
Tem na barraca ao lado
Tem no botequim da praça

E a mulher cachaça
Doidona como ela só
Depois da terceira dose
Solta logo o fiofó
De todas que já citei
De todas que já provei
Para mim esta é a melhor

Cordel adaptado de um samba do Poeta e cantor Dicró.

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LITERATURA DE CORDEL