Numa manhã sombria
Cantava um pintassilgo
Acordava uma cotia
Era final de agosto
Parecia bem disposto
Ao trabalho rotineiro
À noite foi se deitar
Não antes de escutar
O seu fiel camareiro
De repente um estampido
No quarto do presidente
Deram logo de cara
Com uma cena deprimente
Os braços postos em cruz
Pedindo perdão a Jesus
E o revolver bem ao lado
Diante do exposto
Getúlio estava morto
O fato foi consumado
Encontraram ao seu lado
Uma carta-testamento
Muito bem redigida
Expondo o seu tormento
Na carta ele dizia
Tudo que ele queria
Qual a sua intenção
Numa luta incessante
O povo leve adiante
A sua libertação
Ele estava pressionado
A entregar o poder
Estava desesperado
Não sabia o que fazer
Tinha grupos nacionais
E também internacionais
Inimigos ocultos
Querendo sua derrota
Fazendo-lhe chacota
Atirando-lhe insultos
Mas ele era valente
Um defensor do povo
Um líder martirizado
Querendo um mundo novo
Uma vez renunciei
Para o povo eu voltei
Pra luta continuar
Contra toda opressão
Resistindo a pressão
Ninguém vai me derrotar
Estava sendo acusado
De atentado de morte
Contra Carlos Lacerda
Que escapou por sorte
Quem morreu foi Rubens Vaz
Porém Deus sabe o que faz
A Justiça o salvou
Mas sem apoio político
Já velho e raquítico
Para a morte apelou
Sufocam a minha voz
Diz um trecho da carta
Impedem minhas ações
Traição não descarta
Mantenho a rebeldia
Batalho noite e dia
Por um povo sofredor
Que vive humilhado
Triste e desamparado
Precisando de amor
Nesta luta desigual
Já me sinto exangue
Que mais eu poderei dar
A não ser o meu sangue
Se as aves de rapina
Que vivem na latrina
Querem a todos sugar
Ofereço a minha vida
Sem ter a despedida
Que a todos queria dar
Mantenham-se unidos
Atendam meu suplício
A bandeira da luta
Este é o sacrifício
De um povo devotado
O meu sangue derramado
É uma chama mortal
Da vossa consciência
Agindo com sapiência
Nesta luta contra o mal
Eu vos dei a minha vida
E vos ofereço a morte
Diante das agruras
Fui um homem de sorte
Vou para a eternidade
Sabendo que na verdade
Esta é a minha glória
Por ser justo e fiel
E estar neste cordel
Entrando para História
Edimar Monteiro