Mas era intenção minha
Falar de um pistoleiro
Famoso como o Mainha
Frio e sanguinolento
Matar a qualquer momento
Esta era sua linha
Nasceu em Alto Santo
No sertão do Ceará
Sozinho e sem estudo
Sem rumo e ao Deusdará
Aprendeu uma profissão
Matador em profusão
Estilo de carcará
No ano noventa e sete
Ele quebrou o cabaço
O prefeito ele matou
Sem maior estardalhaço
O revolver apontou
Bem na testa ele mirou
E meteu-lhe um balaço
A partir deste dia
Debulhava seu rosário
Matador de aluguel
Verdadeiro mercenário
Sua fama se espalhava
E aos pouco ameaçava
O poder Judiciário
No ano de oitenta e dois
Por chamá-lo de ladrão
Matou o seu vizinho
Sem nenhuma compaixão
Eu vingo a minha honra
Matar não é desonra
Pois roubar não roubei não
Ao final do mesmo ano
Dois pistoleiros matou
Mandados de outro estado
Que o inimigo ajustou
A justiça o absolveu
A Deus ele agradeceu
Desse crime ele escapou
No ano de oitenta e três
Matou quatro de uma só vez
A chacina à sangue-frio
Não teve sim nem talvez
Matou marido e mulher
Um soldado e o chofer
Sem mostrar desfaçatez
Por essa chacina atroz
Ele foi para a prisão
Sessenta e quatro anos
Foi sua condenação
Sofreu um atentado
Mas a sorte ao seu lado
Permitiu a salvação
No presídio onde estava
Houve uma rebelião
Prenderam o arcebispo
Que estava em oração
Rápido como ninguém
Libertando o refém
Teve a consagração
Depois de doze anos
Conseguiu a liberdade
Em regime semiaberto
Voltou pra sua cidade
Mas num grande tiroteio
A policia interveio
E foi preso em Caridade
Novamente conseguiu
Nossa justiça burlar
Na linda Maranguape
Resolveu então morar
Mas o destino cruel
Apresentou-lhe o fel
Pro seu gosto ele provar
Montado em um burro
Usando boné de lado
Ele nunca esperaria
Que fosse identificado
Um carro se aproximou
Nove tiros ele levou
Pois estava desarmado
Aos cinquenta e cinco anos
Seu mandato acabou
O inimigo armado
Seus miolos estourou
Morria um pistoleiro
Que ao povo brasileiro
Tanto tempo amedrontou