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MINHA VIDA, MEUS CORDÉIS

Cordel dos apelidos


Este cordel eu fiz em homenagem a D. Ilda, nossa mãe, a matriarca dos Monteiros. Ela tinha este vício sadio de colocar apelidos nos outros. Nem os filhos escapavam, aliás, estes eram os que mais sofriam com estes epítetos exóticos, sempre baseados em algum personagem que habitavam seu imaginário ou pinçados de figuras estrambóticas que conviviam conosco nos inóspitos sertões do cariri. Alguns jargões primitivos, talvez da era mesozóica, também são citados para ilustrar o bom convívio que tínhamos na nossa convivência interiorana. Jati, Barro e Milagres são palcos destes primores abaixo relacionados.

Vou escrever este cordel
Pois me veio à lembrança
De todos nossos apelidos
Desde os tempos de criança
Cada um mais engraçado
Risadas pra todo lado
Estava feita a lambança

Tinha uns nomes esquisitos
Que somente ela sabia
Quando tinha muita raiva
Ela sempre explodia
Bexiga lixa, boba fogueteira
Mistura de raiva e brincadeira
Depois de tudo, sorria

Amancebado da semana santa
Infeliz das costa ocada
Se não saísse de perto
Levava uma boa palmada
Tinha mais era que correr
Pra depois não receber
Uma bela de uma lapada

Nenhum de nós escapou
De um apelido ruim
Itamar: empererado
Emído: Antonio Bafutim
Tinha um que eu sempre ria
Esqueleto da Maçonaria
O de Ildemar era assim

Isso aqui é só o começo
Muito ainda vou contar
Zé negão é de Emidio
Rato canoeiro era Edimar
Este aqui veio no capricho
Terezinha de Zé Apricho
Maryland sempre a chorar

Itamar era o que mais tinha
Do menorzinho ao maior
Mané bucho verde, Luis Araruna
Torado no grosso e coió
Quando bem quer ela inventa
Tinha até barrão setenta
Este ai era o pior


Tem outros que agora lembrei
Fico rindo só em pensar
Antonio da Prefeitura
Também era de Itamar
Chupata era Lurdinha
Muita raiva ela tinha
João doido era Vilmar

Quebrei muito minha cabeça
Tentando sempre lembrar
Lembrei Touro de monturo
Este era de Itamar
Lembrei que o baixim ainda tinha
O apelido de Jotinha
Maneco Vermelho era Edimar

O de Ildemar calango elétrico
Edimar foi Zé monteiro
Emidio: Adriano doido
Lurdinha: Ciça do pandeiro
Bilé era Vilmar
Sebo era o de Ivomar
Cada um mais traiçoeiro

O de Nego que matou o padre
Ildemar foi quem ganhou
O de Massa bruta
Edimar foi quem herdou
Ficou na minha memória
Para contar esta estória
Dos apelidos que ela botou

Lurdinha era Jurema
Emidio era piau
Maryland virou taioca
De todos o menos mau
Quem quiser ache ruim
Dona Ilda sempre assim
Autêntica e original

Somente Kelmer escapou
De receber seu apelido
Acho que por ser o mais novo
Acabou sendo esquecido
Mas dona Ilda vai tentar
Um apelido nele botar
Pra não ser o merecido.

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LITERATURA DE CORDEL