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MINHA VIDA, MEUS CORDÉIS

A CARGA DA IDADE

Os cinquenta vem com o vento
Com sessenta esmorece
Com setenta não parece
A foto do documento
Com oitenta já está lento
Não põe um pé num batente
Com noventa está demente
Não escuta e não vê nada
Não tem carga mais pesada
Do que a idade põe na gente

O que o tempo fez de errado
Foi tirar minha adolescência
A borracha da ciência
Não apaga meu passado
Vendo o pai andar cansado
Penso os dias lá na frente
Não será bem diferente
Já não posso fazer nada
Não tem carga mais pesada
Do que a idade põe na gente

A saúde do ancião
Isso a vida não conquista
Enxergar sem grau na vista
Sem problema de audição
Nessa vida sem opção
Velho é sempre mais doente
Na escalada infelizmente
Todos caem desta escada
Não tem carga mais pesada
Do que a idade põe na gente

Quem dos oitenta passou
O destino é uma cova
Não beija menina nova
Que dantes já abusou
Vendo que o tempo já passou
No seu mundo transparente
Vê seu rosto diferente
Sente a face transmudada
Não tem carga mais pesada
Do que a idade põe na gente

Não precisa se apressar
Nem pedir que se antecipe
A idade tem equipe
Pros seus anos atacar
Quem procura se livrar
Não escapa nem que tente
Pois a morte é valente
Pega a vida desarmada
Não tem carga mais pesada
Do que a idade põe na gente

Esses fatos são reais
A beleza é fantasia
Vejo a tempo todo dia
Levar sonhos joviais
Guardar seus capitais
Não te faz adolescente
Quem te deu este presente
Não dá outro que te agrada
Não tem carga mais pesada
Do que a idade põe na gente

Cordel adaptado do repente do poeta Nely Sousa 
"Não tem carga mais pesada do que a idade põe na gente".  

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LITERATURA DE CORDEL