Ad Code

MINHA VIDA, MEUS CORDÉIS

Meu casamento com Vicença


Quando solteiro eu vivia
Sempre o maior aperreio
Devido eu ser muito feio
As moças não me queria
Quando pra um forró eu ia
Com qualquer amigo meu
Ele confiava n'eu
Ia bebê e dançar
No fim da festa arengar
E quem ia preso era eu

E pra arranjar namoro
Eu toda vida fui mole
Cantei samba, puxei fole
Usei um cabelo louro
A boca cheia de ouro
Chega brilhava de dia
Quando pra um forró eu ia
Cheirava como uma rosa
Mas quando eu caçava prosa
As moças num me queria

Eu dizia é catimbó
Que alguém botou e não sai
Que mãe casou com papai
Vovô casou com vovó
Até meu irmão Chicó
Munto mais feio do que eu
Namorou, casou, viveu
Com duas mulheres, até
Só eu não acho muié
Que queira se esfregar neu

Mas Deus do céu descuidou-se
Jesus também se esqueceu
E Vicença me apareceu
Com olhos de bico doce
Nosso olhar  misturou-se
Que nem feijão com arroz
Se abufelemos nós dois
Num amor tão violento
Que marcamos o casamento
Pra quatro dia depois

No dia de se amarrar
Se arrumou eu e ela
Dei de garra na mão dela
Fui pra igreja casar
Cheguei nos pés do altar
Recebi a santa bença
Jurei não ter desavença
Entre eu e minha esposa
O padre disse umas coisa
Eu eu fui viver com Vicença

Cheguei em casa com ela
Fui logo me agasalhando
Desde já eu ia pensando
De dormir com a costela
Vicença fez uma novela
Pra dentro da camarinha
Quebrou uns troço que tinha
Me ameaçou na bala
Findou dormindo na sala
E eu me lasquei na cozinha

Da vida eu perdi o gosto
Porque Vicença fez isso
De manhã fui pro serviço
Pra não morrer de desgosto
Cheguei em casa o sol posto
Vicença me recebeu
Até um café ela ferveu
Botou pra nós dois tomar
Mas quando foi se deitar
Nem sequer olhou pra eu

De Deus eu perdi a crença
De nome chamei uns trinta
Botei a faca na cinta
Fui conversar com Vicença
Vicença deu a doença
Quando eu falei em amor
E perguntou - o sinhô
Pensa que eu sou o quê
Só me casei com você
Pra lhe fazer um favor

Bati com ela no chão
Puxei a lapa de faca
Cortei-lhe o cós da casaca
E o elástico do calção
Vicença tinha razão
De num querer bem a eu
Não era com nojo deu
E nem porque fosse zerada
Sabe quem era a danada?
Era macho que nem eu

Eu muito me arrependi
Porque me casei com ela
Falei logo com o pai dela
E de manhã a devolvi
Grande desgosto senti
Que quase morria, até
Homem em traje de muié
Tem muito de mundo afora
Mas só caso com outra agora
Sabendo logo quem é

Adaptado do cordelista Luiz Campos

Ad Code

LITERATURA DE CORDEL