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MINHA VIDA, MEUS CORDÉIS

Parabéns Claudio Correia Primo


Minha mãe estava parindo
O seu terceiro rebento
Dezoito de setembro
Era o dia do advento
Vim ao mundo peladim
Com cabelo de alfenim
E o corpo alvacento

Quarenta e quatro era o ano
Da minha vinda ao mundo
A parteira anunciava
Um garotinho fecundo
Muito cheia de alegria
À minha mãe dizia
O seu filho é bem rotundo

Era tudo enganação
Pra minha mãe não se abater
Eu era muito magrinho
Pois não queria comer
Só ficava no meu leito
Pegava somente o peito
Era de entristecer

O mingau de maizena
Era a alimentação
O leite de minha mãe
Foi a minha salvação
Por eu ser muito pálido
Desnutrido e esquálido
Tive até vela na mão

De Varzea Alegre ao Crato
Do Crato à Fortaleza
Saudades da minha mãe
Mulher de rara beleza
Guerreira e valente
Cuidava bem da gente
Num mundo de aspereza

Nove filhos era pariu
No meu tempo era assim
Era um atrás do outro
Parecia não ter fim
Ela nunca se abatia
Desde cedo eu já sabia
Do amor dela por mim

Nosso natal era triste
Não tinha Papai Noel
Eu ia para a pracinha
Pra brincar no carrossel
Mas sabia que um dia
Presentes receberia
Porque meu Deus é fiel

Quando eu tinha dez anos
Um presente eu quis ganhar
Eu falei pra minha mãe
Você pode me ajudar
Pare um pouco e me ouça
Um perfume e leite moça
Será que pode me dar?

O perfume eu entendo
Ouvi minha mãe dizer
Mas com o leite moça
O que pretende fazer?
Eu disse vou lhe contar
Pra senhora escutar
E um pouco entender

Leite moça é feito o céu
Muito fácil de entender
É o doce que os anjos
Preferem para comer
Minha mãe disse pra mim
Se você prefere assim
Isto vai acontecer

Com sessenta e nove anos
Já rodei o mundo inteiro
Pois sou desde pequenino
Um garoto aventureiro
Passeei no Iguatu
Conheci o Tururu
Sou legítimo brasileiro

Sou um homem inteligente
Muita inveja eu já causei
Amanhã é outro dia
Outro dia viverei
Eu só quero de presente
Uns dez anos pela frente
Pois meu destino não sei

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LITERATURA DE CORDEL