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MINHA VIDA, MEUS CORDÉIS

A tinta branca dos anos


Nunca pensei na velhice
Mas a danada chegou…
E o seu fantasma me disse
Que o tempo bom acabou
E o mesmo tempo, sisudo
Me quis despojar de tudo,
Desmoronando os meus planos
E pra maior pesadelo
Jesus pintou meu cabelo
Com a tinta branca dos anos

O tempo passa veloz
Deixando tudo em desgraça
Nós nem pensamos em nós
Tão veloz o tempo passa
Eu mesmo, em mim, só pensei
Depois que velho fiquei
Depois de mil desenganos…
Já não represento nada
Tendo a cabeça pintada
Com a tinta branca dos anos

Tudo na vida se acaba…
A mocidade, também
A juventude desaba
Quando a caduquice vem
Sinto que a morte me afronta
E que a consciência conta
O meu tempo entre os humanos
Vejo os meus dias contados
Nos meus cabelos pintados
Com a tinta branca dos anos

A tinta que o tempo bota
Sobre a cabeça da gente
É d’uma que não desbota
Permanece eternamente
Tem gente que compra tinta
Mete na cabeça e pinta
Só pra nos causar enganos…
Mas é besteira do povo
Depois sai cabelo novo
Com a tinta branca dos anos

Author: Dedé Monteiro
Tabira / 1970


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LITERATURA DE CORDEL