Livanildo bem magrinho
Parecia um vem-vem
Aos nove anos de idade
Já queria ser alguém
Disse: mãezinha querida
Vou seguir a minha vida
Vou partir pra mais além
O seu primeiro emprego
Foi em uma construção
Ia e vinha do açude
Carregando um galão
Preparava o cimento
Cheio de contentamento
Parecendo um peão
Daquele seu emprego
Ele logo mudaria
Resolveu de uma vez
Trabalhar em padaria
Pois naquela sua idade
Tudo era novidade
Tudo era fantasia
O trabalho era pesado
Já não dava vencimento
Encher sacos de bolachas
Já virava um tormento
Disse sério ao patrão
Ajudo a fazer pão
Se o senhor me der aumento
Desistiu de ser padeiro
Pois não mais agüentou
Numa banca de bombons
Como sócio ele entrou
O negócio não rendeu
Prejuízo logo deu
Quebrou tanto que apartou
Foi ser lavador de carro
Em um estacionamento
De uma tia velhinha
Que tomou conhecimento
Neste emprego se deu bem
Pois lá conheceu alguém
Que o tirou do relento
Saiu para ser contínuo
Num emprego de valor
Trabalhava noite e dia
Ajudando seu Nestor
Pois na Gráfica Real
Sentia-se o maioral
Ao lado do seu tutor
Com dezessete anos
Já era de se esperar
Era esta a idade
Do jovem se alistar
O Exército o convocou
Logo ele abraçou
A carreira militar
Foi pau pra toda obra
Não recusava missão
Fazia sempre faxina
Na casa do Capitão
Muitas honras recebeu
Pois certo que mereceu
Receber seu galardão
Ao dar baixa no quartel
Contínuo ele foi ser
Uma vida diferente
Ele desejava ter
Nesta vida cigana
Foi parar em Messejana
Trabalhando pra valer
Apesar de pouco estudo
Só tinha o ginasial
Seu crescimento seria
Dentro de um hospital
Mostrou sua inteligência
Aliada a competência
Nesta guerra desigual
Foi num trabalho extra
Com todo seu frenesi
Fazendo a faxina
No setor de UTI
Uma maquina quebrou
Ele logo consertou
Seu futuro estava ali
Com seu jeito brincalhão
Ganhou logo a simpatia
Da Doutora do setor
Chamada Lucia Garcia
Por alguns foi odiado
Por outros foi amado
Vida que se seguia
Aprendeu muito depressa
Um perito se tornou
Mas sem ter nenhum estudo
Ele nunca prosperou
Durante este percurso
De técnico fez um curso
Mas que nunca terminou
Depois de muita luta
Decidiu então sair
Laboratório era
Outro rumo a seguir
Já com muita experiência
Montado na excelência
Mais alto quis ele subir
Laboratório Pasteur
Uniclinic, São Mateus
Durante oito anos
Concluiu os sonhos seus
Pra poder andar nos trilhos
Sustentar mulher e filhos
Gastou muito seus pneus
Por ai não pararia
Tinha nele uma comichão
Resolveu ser vendedor
No setor de construção
Largou logo a escola
Foi vender massa cola
Pra aumentar o ganha-pão
Noutro ramo enveredou
Com muita convicção
Pras bandas do interior
Foi vender confecção
Dinheiro ele ganhava
Mas tudo ele dava
Pro “rapa” de comissão
Largou a confecção
Foi seguir outro caminho
No ramo dos gelados
Foi vender o cremosinho
Vendia pro camponês
Quase vinte mil por mês
Superava o marujinho
Por mais que trabalhasse
O mercado piorou
Com a crise financeira
O negocio não vingou
Com seu carro depenado
Depois de ser roubado
Outro rumo ele tomou
Para um ramo diferente
Livanildo foi levado
Trabalhou para a Kioma
Como vigilante armado
Investiu em treinamento
Superando o sofrimento
Era um homem preparado
Mesmo assim não sossegou
Outro rumo quis tomar
Voltou ao laboratório
Era este o seu lugar
Vou fazer um concurso
Este era seu discurso
Quero agora sossegar
Foi no Hospital Geral
Que o concurso aconteceu
Depois de muita luta
Sua chance apareceu
Estudando adoidado
Ele foi bem aprovado
Conquista que mereceu
Enquanto ele aguardava
Sua vez de ser chamado
Continuou trabalhando
Como um terceirizado
Depois de quase dois anos
Apesar dos desenganos
Ele foi efetivado
Tomou uma decisão
Que aplaudo com louvor
Disse: ainda vou crescer
Sempre fui trabalhador
Mesmo com esta idade
Vou cursar a faculdade
Agora vou ser doutor
Vender estava no sangue
Isto ele já sabia
Até casa de palha
Ligeirinho ele vendia
Por causa da pertinácia
Mesmo cursando farmácia
Corretor ele seria
Faculdade, hospital
Contínuo, segurança
Corretor, pai de família
Orgulho , esperança
Tudo isso quer dizer
Que ainda vai crescer
Com fé e perseverança